29.6.06

UM AMOR PARA TODA A VIDA

Kelly Guimarães

Aos dez anos de idade não se sabe muito sobre a vida, mas quando se tem dez anos a gente acha que sabe, e eu sabia, era ele e não outro, nenhum outro e pelo resto de minha vida.
Porque ele era bonito, um pouco dentuço, mas bonito, bem magricelo, mas inteligente, usava uniforme, tinha os materiais bem organizados, cadernos encapados e canetas coloridas. Era querido pelos professores, um menino educado, sorridente, que aliás, devia ser mesmo um porre de tão perfeitinho, mas eu realmente gostava, o que não era nada original, assim como eu, outras tantas meninas da classe eram encantadas pelo tal garoto.
Que se há de fazer! A vida é assim mesmo, e neste jogo uns perdem, outras ganham, eu ganhei. Daí que ele mudou de lugar na sala se instalando do meu lado esquerdo na outra fileira, e eu passava o tempo todo sentindo uma friagem na barriga, uma vontade de rir sem parar e uma coceira nas bochechas. Mas passou um dia, dois... a coceira foi sumindo e a vontade de rir passou, ele parecia mais dentuço, mais magro e chato.
Aquele romance estava por um fio e não houve outro jeito senão deixar que rompesse dando um ponto final àquela história do menino ficar andando ao meu lado na hora do recreio, olhando para mim na fila ou oferecendo suas canetas coloridas para eu copiar a lição. Foi sofrido, mas foi melhor!
Nos dias seguintes foi tedioso ir para a escola e não ter aquela sensação esquisita , aquele mal-estar de quando se está apaixonada, era desmotivante, e eu tinha que ficar prestando atenção à aula.
Dias depois veio para a nossa escola um aluno novo, sentou na carteira em frente à minha. A professora pediu que eu o ajudasse no que fosse preciso porque ele vinha de outra escola assim no meio do ano e coisa e tal. E quando ele se virou pra trás e sorriu pra mim, fazendo reluzir o aparelho dos dentes, eu soube, agora sim, era ele e não outro, nenhum outro e pelo resto de minha vida.

UMA HISTÓRIA COM COMEÇO E MEIO

Kelly Guimarães


Saía de casa apressado, não que estivesse atrasado, é que não podia ficar ali e esperar, esperar os minutos e a hora. As coisas não são feitas cada uma sua vez, as coisas são feitas começadas todas, umas pelo meio daquelas outras inacabadas, e agora: sair.
Por invadir a rua ansioso e distraído, deixaria para trás algo que se e quando percebesse ausência ligaria ao pai pedindo que levasse. Nenhuma novidade, a vida corria assim, gavetas e portas abertas, roupas espalhadas pelo chão, livros e cadernos embaixo da cama, em cima. Seu quarto: o mundo, o caos, achava nada por ali, e tudo quanto possuía com pouco tempo deixava de ter, quebrava, rasgava, furava, manchava, queimava, dava e perdia. Pela casa os vestígios de sua existência, tênis, bolinhas de folhas de papel, desenhos, xícara, boné, revistas, brinquedos, pontas de lápis, migalhas.
Quando presente o caos eram as palavras, vinham todas de uma vez, os olhos piscando, o peito arfando, a garganta contraindo-se sem ar, e o raciocínio se atropelando, fugindo, inventando. As pernas sempre agitadas querendo correr, a mãos pegar, pegar e desfazer, destruir para deixar que seja de novo outra qualquer coisa diferente da anterior.
Na mente bailando vontades, de ter, de ser, comer, sair, subir, falar. Vontades que negadas revelavam infinita insatisfação, devolvendo ao mundo choro, porta batendo, fotos rasgadas, e o mesmo pedido sempre, por horas insistente, “eu quero”, “não quero”, “por quê? ”, “por que sim?”, “por que não?”.
A cabeça não pára, a nada se apega, a pouco se entrega, não aprende a ler, não aceita regras, não as entende, age por impulso, faz tudo por instinto, franze a testa, mostra os dentes, cerra os punhos e chora. Não dorme, come muito, fala muito, deseja. Em volta de si sempre o som, de mãos, batuques, voz, onomatopéias. De repente uma ausência, olhos de infinito olhar, não quer nada, esvaziou-se.
Há predições que afirmam: será socialmente instável, projetos serão vulcões, que ao tempo, pouco, será lava rija, fria e negra. Empregos, carreiras, amores, tudo pelo caminho. Toda família tem a sua ovelha negra, bicho solto, ele a nossa?
Três anos apenas, agora sete, doze e pela vida afora a constante inconstância, corpo presente em mente flutuante que navega... por onde?
Hei de negar profecias. És grande, e serás todo. Sua alma em desordem, em colapso, em ainda lapsos de vazios, sobrevoa a atmosfera de todos nós, vindo em pouso urgente num mundo que não parou para ele divagar.

BOLO DE FUBÁ

Kelly Guimarães


Esta é uma história baseada em fatos reais, tanto é que para proteger a identidade das personagens os nomes foram trocados, então qualquer semelhança terá sido fato.
Foi assim, Laura; Laura, loira, jovem, bem empregada, solteira sem namorado, acaba de pôr os pés em casa quando chega Marta; Marta, morena, jovem, empregada, solteira, indo por aqui e acolá de vez em quando, entendem?
- Oi Laura, vamos fazer um café.
Se precipita porta adentro, já vai à cozinha, põe água no fogo. Trazia um bolo de fubá para a amiga.
- Laura, nem te conto!
Ah meus caros! Não se enganem, sempre que alguém diz “nem te conto”, não só conta, como tempera sutilmente com uma pitada de desdém e malícia.
- Encontrei a Verônica hoje, tá bonita, magra, tingiu os cabelos...
E blá, blá, blá, essas coisinhas de moda, estética e afins.
-...Ela vai se casar.
Vejam que olhar felino é lançado sobre Laura, esta que por sua vez prova um gole do café.
- É? Com o Carlos?
- Com o Carlos!!!
Mas agora ouçam como Marta diz “com o Carlos”, assim deste jeito, três pontos de exclamação e as palavras saindo-lhe bem articuladas para que não hajam dúvidas de que é com o Carlos, pois o tal sujeito, senhoras e senhores, como é certo que já se deram conta é um ex de Laura.
- Que sejam felizes. Açúcar ou adoçante?
Neste momento Laura faz aquele ar de “tô cagando e andando pra eles”.
- Açúcar. Isto mesmo Laura, assim é que se fala, se não deu certo com você paciência, afinal, pra cada panela velha existe uma tampa torta, e o Carlos, meu bem, não era a tua.
- Bolo, Marta?
- Sim, uma fatia.
Laura e Marta se conheceram ainda crianças, as mães trabalhavam juntas, e uma freqüentava a casa da outra por ocasião das festinhas de aniversário, vai daí que se tornaram amigas. Moravam no mesmo prédio.
- Olha, posso falar uma coisa?
“Posso falar” não é uma pergunta para ser respondida, quando dizem isto, o que as pessoas querem mesmo é palpitar sobre sua vida.
- Eu acho que você devia dar uma mudada, você anda freqüentando uns ambientes tão estranhos, eu sei que você gosta, mas eu acho que estes teus amigos intelectuais, bem com todo respeito, mas eles são um saco!
Laura enquanto leva uma fatia de bolo até a boca se pergunta por que Marta está ali, sentada na sua cozinha, tomando do seu café. “Como foi mesmo que nos conhecemos?...”
- Você sabe né? Eu não gosto...
Gosta sim Marta! Admita! Você gosta! Esqueçam isto leitores, risquem este comentário a caneta. Estou só relatando os fatos.
- ... Mas você sendo minha amiga, vou dizer: abre o olho Laura!
- Marta, como foi que nos conhecemos?
- Nossas mães, lembra? Fui ao teu aniversário de dez, não, doze anos. Eu tinha dez.
Marta faz referência à idade intencionalmente para que fique registrado que ela, é mais nova que Laura, a amiga.
- Percebo que você se diverte pouco, fica nestas reuniõezinhas, com esse pessoalzinho metido a besta, saia Laura, saia pra dançar, beber, curtir a vida...
- Mais bolo? Café?
Marta tem um não sei quê de invasiva, espalhafatosa, mal-educada. Isto não sou eu que digo, mas é o que Laura reflete agora. “O que eu gosto nela?”
- Sabe que vou viajar mês que vem? Siiiiim, vou fazer uma viagem, descansar, conhecer novos lugares, gente nova. Por que você não faz uma viagem?
- Tem erva-doce no bolo né?
- Tem. O que você anda fazendo com seu dinheiro, menina? Por que não economiza pra poder fazer como eu, invista em você, presenteie-se com uma bela viagem.
“Do quê ela está falando? Aliás, quem é esta pessoa sentada bem à minha frente?”
- E tem mais, vou aproveitar e dar uma mudada no visual, fazer umas luzes, uma progressiva, e mais o que me der na telha. Você devia fazer o mesmo.
Pois assim é, algumas pessoas entram na vida da gente, não se sabe como, e vão ficando não se sabe porque.
- Bem, querida Laurita, a conversa ‘tá boa mas eu tenho mil coisas pra fazer, não posso ficar aqui de papo com você.
Ela se despede, beijinho, abraço de ombro, e antes que entre no elevador Laura dispara:
- Marta, só pra você saber, eu nunca gostei de bolo de fubá, principalmente com erva-doce.
Ao que Marta responde:
- Eu sei.

O CORPO QUE CAIU

Diogo Cardoso dos Santos

O canto da parede do quarto, numa fresta entre o guarda-roupa e a parede, era seu lugar. Seu até que alguém colocasse algo ali. Na verdade, era um desabitado.
Em algum momento da sua vida fez parte de um círculo social onde era chamado de amigo. Ele não se lembra bem, e hoje não sabe nem imagina o que seja esta palavra. Nem pensa nisso. Simplesmente não pensa. Seus olhos ficam vidrados ávidos num ponto vazio no espaço, que facilmente acredita-se que ele avista o chão.
Chão. Foi ele.
Sua boca adormecida era uma casa abandonada, onde reinara o silêncio. Saíam dela apenas heras de líquido transparente e viscoso.
Amigos. Se ele tivesse consciência do que era essa palavra hoje inexistente a si, a chamaria de ausência. Sua única companheira.
O que é o homem, quando sua única posse é o corpo? Antes, quando tinha algo além, era cercado de outros corpos, que simpatizavam com ele. Ele até chegou a acreditar na palavra amizade. Não, mais que isso, era uma família que ele possuía. Fora e dentro da sua casa.
Mas agora, medo, que palavra o salvaria? Ausência... Alguém em plena sanidade não arriscaria chamá-lo de palavra. Guarda-se ela, mudo dentro de si. Ausên... Ele, que já não pensava, teve a ousadia e a coragem de conviver com essa in-palavra. Pois com ela não se escolhe, o convívio acontece.
Quantos corpos passaram por sua vida. Quantas vidas compartilhadas. Solidões acompanhadas. Agora sem companhia nenhuma sua solidão à mercê da ausência. Na derrelição, no abandono. Num canto que não lhe pertencia seu último abraço foi dado a um chão. Como um beijo de boca. Um encontro precipitado há anos desde o primeiro beijo naquele líquido transparente. Este não era viscoso.
O beijo da morte. O chão. Foi ele.
Tirou-lhe todos os corpos de sua vida. O que é o homem quando sua única posse é o corpo! E o que é do homem quando nem seu corpo lhe pertence?
Uma fresta. Um espaço vazio entre o guarda-roupas e a parede.

10.6.06

ONDE FOI QUE EU ERREI!

Maristela Rocha

Lá vem ela de novo...daí eu digo: de novo não! Não que eu seja maldosa, longe disso, aliás tenho muito apreço por ela. Sempre esteve comigo quando precisava, ou quando ela achava que precisava...tá bom, na maioria das vezes quem precisava era ela...mas não importa, ela sempre foi presente. Muito presente!
Bom, daqui a pouco ela chega e fico imaginando o que vai ser agora: Será que vão ser críticas sobre o meu “beber socialmente”, ou um conselho sobre as pessoas com quem me relaciono? Já sei, talvez para seja falar mal da minha outra amiga, “afinal”, como ela diz, “todo mês esta garota é uma caixinha-surpresa”. Esta conversa já esta me irritando.
Quando não, é a maldita TPM “como pode você não sofrer disto?...Ah, estou com os nervos à flor da pele!”
Mas, puxa vida...fico até sentida de pensar estas coisas dela, mas tenho a impressão que ela pede.
Onde já se viu: reclama do meu emprego que não é nada enriquecedor, depois reclama que não tenho emprego. Meus romances não são nada promissores, daí a maldita comparação “Não, porque o meu é isto e aquilo, imagine só, outro dia ele me levou para um jantar romântico naquele restaurante chiquérrimo que inaugurou no outro dia, lembra? Naquele mesmo dia que eu queria te apresentar um amigo e você preferiu ficar ai com seus filmes que são tão...tão...pobres!”.
Ai que desaforo! Estou cansada e tentando me lembrar quando foi mesmo que permiti que ela entrasse na minha vida... lembro não, mas... bom, de qualquer maneira...
E se ela começar a sentir saudades de quando eu era magra? Ou dos tempos de escola em que ela era melhor em tudo? Ou de qualquer coisa no gênero?... Ai, chega!
- Desculpe... sei que você já está a caminho, mas surgiu um imprevisto...

19.5.06

DEPOIS DO COMEÇO

Kelly Guimarães

No começo é assim, já dizia minha avó, dói, a gente sofre, mas depois... a gente se acostuma. Depois a gente se acostuma, mas hoje não!Caminho por esta calçada sem entender. São casas de portãozinho baixo, janelas de madeira, um cão cheira o poste, uns matos crescem por entre o concreto que rachou. Hoje não quero pensar nisto.Descendo a rua vou me aproximando do centro, vejo a praça com sua velha igreja. Um dia a gente está no topo, no auge, feliz, amado, e noutro está decadente, um nada vagando a superfície da terra. Os bancos estão cheios de cocô de pombo. Nossa! Tem tanta gente no mundo! Passo por muitos rostos, são formas, tamanhos e cores. O que elas estão pensando agora? Deu um vazio na minha mente, o que aconteceu? Saí de lá sem entender nada, em que instante tudo desabou e eu não percebi? Foi quando olhei pro lado ou quando fechei os olhos? Quase atravessei a rua na frente dos carros, nem vi, em que eu tava pensando mesmo? Ah sim! As pessoas, são tantas no mundo...Vou passar naquele bar e tomar um café. Mas não era café o que eu queria.E eu queria o quê? Queria esquecer, entender, fugir, queria não dar a mínima. Minha vizinha está de novo no portão, tem mais nada pra fazer na vida esta mulher? Boa tarde! Boa tarde! Tá com cara de quem pegou gripe. É , é gripe...E eu sou feia, burra, sem assunto, o quê? Se me dá licença... Toma um chá de limão com mel, ajuda. Ah sim! Obrigada. Depois de um tempo a gente se acostuma, mas hoje?Entro, sento, levanto, limão com mel, sento, um banho, depois, essa casa tá precisando de uma pintura, deito, os sapatos, a bolsa. Vou trocar as cortinas, mudar a cor da estampa. Quantas pessoas no mundo sofrem como eu agora? E eu sofro pelo quê? Eu sofro? Um dia a gente está no topo.Um banho e um café, depois, e depois penso no jantar, tá quase na hora da novela.No começo é assim, depois a gente se acostuma.

15.5.06

QUASE HORAS

Kelly Guimarães Moreira

Vinte pras sete. Dou o nó na gravata, visto o paletó. É tudo. Já são quase horas. Catarina já trocou de vestido três vezes.
- Meu bem, este ficou bom em você.
- Não ficou não!
- Então por que você comprou?
- Acho que... este aqui.
- O que você achou de ontem?
- Meus brincos azuis, onde estão meus brincos azuis?
- Acho que poderia ter sido mais ousado, menos prolixo talvez.
- Se eu não achar os brincos azuis vou ter que trocar de vestido.
- Mas veja, se a minha apresentação agradou, estou no jogo. Chego à diretoria em dois tempos.
- Ah não! O brinco não combina com o esmalte.
Sete e vinte e três. Catarina anda pelo quarto de calcinha e sutiã.
Que tal aproveitarmos o momento e planejarmos uma viagem?
- Me ajuda aqui, esse ou este?
- Este.
- É? Mas gosto tanto desse...
- Então esse!
- Poxa, mas assim você não me ajuda mesmo!
Sete e quarenta. Saio pela casa, fecho as janelas, as portas, o gás, a cara.
Catarina já desfiou a meia, já borrou o esmalte, já passou perfume três vezes.
- Meu bem, sabe que horas são?
- Os cabelos: presos ou soltos?
- Soltos.
- Tá muito quente, vou prender.
Catarina prende os cabelos, retoca a maquiagem, checa os brincos. Eu adoraria atirar todos os calçados dela pela janela, depois de arrancar o salto de cada um deles...
Ela pega uma bolsa, não gosta. Pega outra, gosta. Se olha no espelho, retoca o batom.
.... e enfiar cada uma de suas jóias na privada, acionando a descarga lenta e longamente.
Solta os cabelos, confere o decote, tropeça num dos doze pares de sapatos espalhados pelo quarto.
.... quero cortar em tiras bem fininhas todos seus vestidos e atear fogo em seu cabelo.
Puxa a meia fina, checa o esmalte, se olha novamente no espelho, borrifa mais perfume.
.... odeio você Catarina, odeio você e a tua coleção de batons, odeio teus perfumes caros, odeio teus cremes e a porra do seu estojo com quarenta e duas cores de sombra.
De repente ouço. Corre-me uma onda de calor que caminha freneticamente pela minhas vértebras até parar na nuca, é um êxtase, é quase convulsivo.
- Estou pronta. Podemos ir.
Respiro.
Oito e trinta e nove. Catarina está finalmente pronta... e está linda!
Podemos ir.

MOCINHA

Kelly Guimarães Moreira

Eu não sabia quando ia começar, a gente nunca sabia. Vivia espera do
inesperado, vivíamos.
Uma vez uma de minhas amigas me deu a idéia, daí em diante, mesmo nos dias maIs abafados de verão, tinha sempre comigo uma blusa, um moleton, porque vai daí que acontece um desacontecimento, era só amarrá-la na cintura e caminhar plena porta afora, passando desapercebida pela multidão.
Quando aprendi a contar os dias a situação ficou menos aterrorizante, mas havia ainda outro incômodo: como esconder o negócio no meio das minhas coisas-cadernos-livros-mochila, e o pior, como sair da sala de aula levando comigo, sem que os meninos, aqueles demônios, vissem? Sem contar que eles tinham aquela curiosidade, mania doentia de ficar olhando pra bunda da gente tentando descobrir se “tava ou não tava”.
Enfim aquela era a mais sublime experiência de todo meu ser... a transformação da lagarta em borboleta, a menina se tornando uma mulher, e meu irmão indo e vindo pela vida sem se preocupar com nada, enquanto eu, miúda ainda, ainda desinformada, ainda não habilidosa na arte e no manuseio, passava pelo vexatório enfadonho de responder sempre a mesma e tola pergunta: “você já é mocinha?”